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Nos Prende a Liberdade

De algum observatório insone, de sonhos navegados, foste visto a te embrenhares por aí com a garota desta rua, em uma quase esquina. Ela: pequena guerreira habitante de tantos outros sonhos e reinos... 

 

 

Às vezes analiso parelhas ao meu redor. Não acho uma conexão de forças, personalidades em seu ajustamento, com seus iteresses pessoais, cuidando de lustrar seus universos interiores, arredondar suas procuras e averiguações. Cedo-me, por certíssimo, à idéia de que sou abertamente um ser atípico... Preciso ficar só, caminhar na rua só. Preciso escrever. Preciso de muitos silêncios. Preciso que o dia não amanheça. Preciso de braços perdidos ao redor de mim. Do gosto na boca e do cheiro que fica impregnado depois do outro... Preciso?...

 

Liv Ullmann, Bergman... Ah! Bergman, que tanto necessitava de afastamento e introspecção, registrou com a mulher, filmes invadidos de pura humanidade, sensibilidade, amabilidade, em espiral intensa, torta e universal. Que casal, hein?

 

Por semelhança, penso instintivamente: "companheirismo". 

O que há de especial na tua relação com ele (a)? 

Ninguém hesita: Ah, o "companheirismo". 

 

Essa opinião tão linda inclusa no dicionário perpétuo da experiência humana é de tal maneira sobrepujada que se aplica a qualquer circunstância. 

 

Companheirismo, na minha, quem sabe, débil - e muito provavelmente errônea definição – não é nada além do que o que se faz impelido pelo coração. Jamais pela obrigação ou unicamente pelo comodismo de querer desvencilhar-se de um emburramento. Tão tênue a linha que separa a entrega da dependência...

 

Quem reconhece, aponta, um casal verdadeiramente maravilhoso, encarregado na concretização de suas trajetórias individuais, pessoais e profissionais, em que a definição do acasalamento seja única e fundamentalmente o querer estar junto?

Em que um não seja o déspota, o executor do outro?

O usurpador de suas forças?

O sabotador de seus desejos mais profundos?

O desorganizador de sua beleza íntima?

O castrador de seu amor próprio?

O grilhão da possibilidade de um novo rumo?

O extintor da possível felicidade ao longe?

O cajado? O pijama? O sapato velho?

Vejo parentes, irmãos, mães e filhos, qualquer coisa, menos casais.

Casais em uma condição de desbalanceamento que dói.

 

Perfeito o casal que diz e sente: o que nos prende é a nossa Liberdade!

("E no que diz respeito à liberdade, nunca é uma palavra que não existe").